Farol de Mosqueiro

Farol de Mosqueiro
Farol de Mosqueiro

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

A proteção dos “Chalés” de Mosqueiro.

(Pintura do Chalé Porto Arthur)

De acordo com a Constituição Federal, o patrimônio cultural do Brasil é a história, o artesanato, a culinária, as manifestações populares e também as edificações. O patrimônio edificado de um lugar tem importância por ser um lugar de memória. Ele foi palco de relações sociais que decorreram no passado e construíram o que somos hoje.

Temos que criar uma visão de que a cultura é produzida na história. Se isso ocorrer, a valorização desse patrimônio vai acontecer também. Por outro lado o turismo despertou para a valorização desses pequenos sítios históricos. A inclusão desses monumentos nos roteiros turísticos é essencial, mas, para que ela aconteça, eles precisam estar recuperados e preservados. O turismo se desenvolve com a troca de culturas e valores culturais.

Muito já foi escrito a respeito de um dos principais símbolos do Mosqueiro que são os seus casarões, comumente denominados de chalés e localizados em sua orla. Reconhecendo a importância simbólica deste patrimônio, a Prefeitura Municipal de Belém construiu, na estrada, um pórtico que reproduz vários elementos tradicionais destas construções.

Um aspecto recorrente, quando o assunto é tratado, diz respeito à competência com que seus construtores associaram os estilos arquitetônicos de influência europeia às condições climáticas da região. A presença do porão, protegendo da umidade, e das varandas, evitando a insolação direta em seus cômodos, são exemplos da preocupação com o microclima no interior destas propriedades. Uma característica marcante eram os quintais e jardins, sempre ricos em espécies frutíferas e ornamentais.

Outro aspecto, também abordado, é a origem destes casarões que sempre esteve relacionada ao período áureo da economia da borracha. Neste período, europeus envolvidos com a instalação de algumas companhias como a Amazon River, a Pará Eletric, a Port of Pará, dentre outras, foram os responsáveis pela reprodução, em nossa região, de uma prática já difundida na Europa que era a existência de uma segunda residência destinada a momentos de lazer e contato maior com a natureza para as suas famílias. Posteriormente, foram imitados pela elite local.

Estudos recentes apontam para a necessidade de revisão de alguns desses aspectos. Viajantes do século XVIII e início do século XIX relataram a presença de propriedades rurais no Pará, conhecidas como Rocinhas, Sítios, Chácaras, dentre outros. Estas serviam de residência para famílias abastadas e já apresentavam a preocupação de seus construtores em oferecer aos seus ocupantes conforto e adequação ao clima. Na cidade, só permaneciam os negociantes, funcionários públicos e o clero além dos boticários, artífices, etc. Com o episódio da Cabanagem, muitas dessas famílias foram atacadas, obrigando-as a mudar para o centro urbano em busca de maior segurança. A partir daí, o fluxo se inverte e essas famílias passam a frequentar as propriedades rurais em momentos de descanso e lazer. Neste sentido, do turismo de segunda residência inicia, no estado do Pará, ainda na primeira metade do século XIX.

No Mosqueiro, também existiam essas propriedades conforme registrou o marechal Manuel Jorge Rodrigues ao se refugiar na ilha de Tatuoca após a tomada do poder pelo líder cabano Eduardo Angelin: “... meia légua apenas decorre desta ilha a do Mosqueiro, onde se distingue a povoação deste mesmo nome com seus sítios e casas de campo, à beira-mar ou nas ribanceiras da costa , por entre palmares e arvoredos...”. O professor La Rocque Soares, ao tratar das propriedades rurais do Pará, no século XIX, faz referência a dois sítios que foram construídos, em Mosqueiro, na região da baía do Sol, por herdeiros do Padre Antônio Nunes da Silva que havia recebido vasta área de terra através de uma Carta de Data e Sesmarias.

Com base nas evidências descritas acima, pode-se dizer que a construção de confortáveis propriedades rurais, pela elite paraense, bem como o seu uso como segunda residência antecedem o período marcado pela economia da borracha. Isto não significa que este período não tenha sido determinante para a proliferação desta prática e construção de novas propriedades. Acredita-se, também, que o embelezamento dos Casarões de Mosqueiro decorre deste período, fato verificado em toda região, inclusive no centro urbano de Belém.



A preservação e recuperação dos casarões existentes na orla de Mosqueiro mostram-se imperiosas considerando o estado precário de muitos e a demolição sistemática que temos presenciado ao longo das últimas décadas. A sua perda têm consequências desastrosas para a história, para a sociedade local, para as artes e para o turismo. Esse patrimônio incorpora toda uma simbologia, a valorização desse patrimônio edificado é responsabilidade de todos e estratégico para o desenvolvimento de Mosqueiro.



A proposta de criação de uma Política de Proteção do Patrimônio Arquitetônico da Orla de Mosqueiro trata-se da implementação de um conjunto de dispositivos e ações cujo objetivo é valorizar este bem valioso e singular. Entre esses dispositivos e ações destaca-se: a criação da “Casa da Memória”, objeto de postagem específica no Blog; realização de campanha educativa apontando o valor desse conjunto de imóveis; estudo e orientação para novos usos; incentivo fiscal para os proprietários comprometidos com a preservação; e o tombamento pelo Patrimônio dos exemplares mais representativos ou do conjunto existente na orla.



Inconformados e cansados de esperar que alguma coisa mude no cenário local, empresários, trabalhadores, moradores e visitantes, todos comprometidos e encantados por Mosqueiro criaram a Associação Pró-Turismo. Partindo de um planejamento que tem como objetivo maior o desenvolvimento sustentável de Mosqueiro formularam várias propostas consideradas estratégicas, essa é uma delas.


Um comentário:

  1. Olá, estou usando seu artigo como referência para exposição de trabalhos de maquetes, na mostra de saberes e cultura da secretaria municipal de educação. Gostaria de conversar sobre as referências que usou em seu artigo, que está muito bem feito e instrutivo. Obrigado.

    ResponderExcluir