Farol de Mosqueiro

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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

As "Varinhas da Conquista", tradicionais em Mosqueiro.



Para aqueles que frequentam Mosqueiro há muito tempo, especialmente os que utilizaram os navios “Presidente Vargas” e “Almirante Alexandrino” para chegar até a Ilha, eu tenho certeza que está presente em suas memórias uma Varinha que era vendida como souvenir. Tratava-se de uma pequena vara de madeira na qual os artesãos executavam um trabalho de grafismo na sua casca, deixando sempre o espaço para a gravação do nome de quem desejaríamos ofertá-la.

Alguns costumavam atribuir poderes mágicos para esta Varinha. Se por acaso um rapaz estava interessado em conquistar uma moça ou uma moça interessada em conquistar um rapaz, bastava gravar o nome da pessoa e aproveitar um momento de descuido e encostá-la sutilmente a Varinha na pessoa. Pronto, o resultado era o encantamento imediato e um novo casal estava formado.

Pesquisa realizada pela aluna Idanise Hamoy para a elaboração do Trabalho de Conclusão do Curso de Licenciatura em Educação Artística do Instituto de Ciências da Arte da Universidade Federal do Pará, classifica a confecção das Varinhas como decorrente da tradição que “...alimenta o complexo sistema da cultura e se retroalimenta deste mesmo sistema, conhecendo, resgatando e valorizando a experiência cotidiana do fazer humano, criando meios para a compreensão da visualidade através do despertar do olhar investigativo e sensível sobre a cultura atual e de outros tempos”.

Os indivíduos que mantém a tradição da confecção da Varinha utilizam sua habilidade e fazem cortes na varinha ainda verde ora no sentido vertical e horizontal, onde o cruzamento das linhas dá origem a planos geométricos que são delicadamente retirados de maneira alternada formando um contraste de claro, representado pelo miolo da vareta, e escuro, representado pela casca da árvore. Este procedimento costuma ser denominado pelos artesãos como “bordado”.

(Foto de Idanise Hamoy)

A vara costuma ser retirada de um arbusto chamado de Taquari (Mabea Taquari Aubl.) da família das euphorbiaceae, encontrada na região. Por ocasião da coleta, se escolhe a vara de acordo com o trabalho a ser desenvolvido, sem necessidade do corte total da árvore, que continua seu ciclo de crescimento mantendo a ramificação de 6 varas em média em cada nó. Dependendo da idade do arbusto, existem diâmetros diferentes para estas ramificações, oferecendo assim novas possibilidades de produto final.

Galhos de Taquary com 5 ramos (Foto de Idanise Hamoy)

Em Mosqueiro, na comunidade rural do Caruaru, a família da Dona Dica que tive oportunidade de conhecê-la e tê-la como amiga, mantém a tradição. Alguns artesãos também utilizam o grafismo e a técnica em alguns dos seus produtos como é o caso da Dona Sandra que produz cuias com este “bordado”.




Poderes a parte, eu tenho certeza que o grafismo produzido nas Varinhas da Conquista é uma das manifestações artísticas mais significativas e singulares que podemos encontrar nesta região do estuário amazônico. Em uma época em que as marcas registradas ganham grande valor para o mercado, este autor registra sua opinião sobre a marca deixada pelas Varinhas. Se resolvermos eleger um símbolo para Mosqueiro, o grafismo das Varinhas constitui-se em candidato muito forte. Ele poderia estar presentes em monumentos e placas de sinalização, estampado em diversos produtos do artesanato local, em camisetas, sandálias, canecas e muitos outros. Ao invés de um governo tentar impor a sua marca, deveria reconhecer e valorizar a marca que brota naturalmente da cultura local.

Um comentário:

  1. Boa proposta para placas com o nome das ruas. Acrescentaria, tambem nessas placas, quem era a pessoa q da nome a rua ou o que aconteceu naquela data...

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