Farol de Mosqueiro

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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O Culto à Senhora do Ó – a padroeira do Mosqueiro


O mês de dezembro é de festa em Mosqueiro. É neste período que a comunidade católica realiza as festividades em homenagem à sua padroeira, Nossa Senhora do Ó. No segundo sábado do mês, barcos tradicionais da região em romaria, cortando furos e igarapés, trazem a imagem de Nossa Senhora do Ó da comunidade do Caruaru até o “Porto Pelé”, em seguida, ela é levada á Igreja Matriz. Na noite do sábado, os romeiros carregando suas velas acesas conduzem a imagem para a capela do Sagrado Coração de Jesus, na praia do Chapéu Virado. No dia seguinte, milhares de fiéis acompanham o Círio, a grande romaria.

Alguns historiadores consideram o culto à Senhora do Ó o mais antigo entre os povos de língua latina. Bem antes de ser instituído o dia 25 de dezembro como dia do nascimento de Jesus Cristo a Santa da Expectação já era cultuada pelos visigodos. Povos da antiga Germânia, em dias muito frios, comemoravam a festa da expectação no último mês do ano. A festa durava sete dias onde era grande o consumo de bebidas e comidas. Quando Eurico invadiu a Península Ibérica, no ano de 455 d.C., com suas hordas conquistadoras, levou consigo o culto à Senhora da Expectação. Nesta época o Império Romano já não existia.


Com a junção das festas pagãs do século IV o Natal foi instituído e a festa de Nossa Senhora da Expectação começou a ser comemorada nos sete dias que antecedem 25 de dezembro. Foi o Concílio de Toledo que deu formas definitivas à Festa da Expectação e criou a imagem de uma mulher gestante, dando-lhe o nome de Virgem da Esperança, isto no ano de 656 d.C.

Em seu livro, À Margem da Visita Pastoral, Dom Antônio de Almeida Lustosa esclarece que a expressão Nossa Senhora do Ó “...explica-se pelas magníficas antífonas que se cantam no ofício divino dos dias que precedem o Natal. Todas essas antífonas começam pela exclamação Ó” (“ó sabedoria”; “ó adonai, guia da casa de Israel”; “ó raiz de Jessé”; “ó estandarte levantado”; “ó chave de Davi”; “ó sol nascente justiceiro” etc.). Essas expressões, cantadas nos claustros sombrios dos mosteiros e nas catedrais, levaram o povo a denominar Nossa Senhora da Expectação, a Virgem da Esperança, de Nossa Senhora do Ó.

Em Portugal o culto de Nossa Senhora do Ó foi muito difundido e com o passar dos anos foi merecendo destaque. Seu santuário é em Torres Novas e um dos mais significativos, além do de Belmonte e o da Freguesia de Malhadas.


No Rio de Janeiro, em 1570, foi construída uma pequena capela toda talhada em homenagem a Nossa Senhora da Expectação e do Parto, a Nossa Senhora do Ó. Em 1590, os frades carmelitas receberam como doação o pequeno templo, que tempos depois desabou. Em 1761, começou a construção da atual igreja. A ornamentação do altar principal foi feita por Inácio Ferreira Pinto. Durante seus longos anos de existência, a igreja foi palco de acontecimentos marcantes da história brasileira. As coroações de dom Pedro I e dom Pedro II foram realizadas em seu altar principal, bem como o casamento de dom Pedro I com dona Leopoldina e o batizado da princesa Isabel.


A capitania de Pernambuco também acolheu o culto a Nossa Senhora do Ó. Situado a cerca de 1.500 metros do Forte de Pau Amarelo, no município de Paulista, vizinho de Olinda, encontramos o Conjunto Arquitetônico de Nossa Senhora do Ó. Ainda em Pernambuco, frei Agostinho cita igrejas consagradas em homenagem à Virgem do Ó na Ilha de Itamaracá e em Mopubú, além da igreja de Ipojuca, em Goiania. Em São Paulo, frei Agostinho faz a seguinte citação: "Duas léguas distante da cidade de São Paulo há uma aldeia de índios nas ribeiras do rio Tietê. Nesta aldeia se vê o santuário da Senhora do Ó ou da Esperança de seu felicíssimo parto...” Nascia a Freguesia do Ó. Em Minas Gerais, na cidade de Sabará, localizada no antigo Arraial de Tapanhuacanga, foi fundada pelo paulista Bartolomeu Bueno da Silva e seus parentes, a Igreja do Ó que é uma das mais importantes construções religiosas da região.


Após a fundação de Belém, missionários vieram para a região com o objetivo de catequizar os nativos e aproveitar esta mão de obra em suas Missões. Padre Altamirando, antigo pároco de Mosqueiro, declarou para um jornal local que acredita ser possível que tenha sido um destes missionários o responsável pela difusão do culto e a constituição da Irmandade de Nossa Senhora do Ó na Ilha. Sancionada em 10 de outubro de 1868, a lei nº 563 da Assembléia Provincial estabeleceu - “Fica criada na povoação de Mosqueiro uma freguesia sob a invocação de Nossa Senhora do Ó...”. A igreja que havia na povoação e pertencia à Irmandade de Nossa Senhora do Ó, foi indicada para matriz provisória e mandada avaliar para a devida indenização à irmandade, promovendo-se a sua conclusão pelo governo da Província.


A ausência de registros no livro de Tombo da paróquia cria a dificuldade para afirmarmos quando e como foi o primeiro Círio de Nossa Senhora do Ó. Relatos de moradores mais antigos dão conta que, na década de 20, a imagem da Santa era conduzida no Sábado até o Sítio dos Irmãos Maristas, localizada na praia do Bispo para, no dia seguinte, retornar a Igreja Matriz. Em 1950, o trajeto do Círio foi ampliado até a capela do Sagrado Coração de Jesus, no Chapéu Virado.

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